"Um mesmo livro nunca é o mesmo para duas pessoas." Ferreira Gullar



20 de dezembro de 2010

A menina que não sabia ler


"Tenso..." Tomei emprestada uma palavra que a minha filha costuma usar para titular essa postagem porque não consegui encontrar outra que caracterizasse melhor A menina que não sabia ler (John Harding, Ed. Leya)... Li ontem, assim, de uma 'sentada' só! Impossível largá-lo... Daqueles livros que deixam os ânimos alterados, uma 'bola' no estômago, uma ansiedade que é difícil descrever!

Fiquei encantada com uma série de circunstâncias: o uso da linguagem, por exemplo! É fantástico o emprego de neologismos que utilizam o nome de autores ou de espaços... a narradora nos convida a acompanhar seus passos e - incrível! - ela dá vida a uma série de situações escabrosas utilizando-se de uma linguagem que mostra seu domínio dos fatos e do uso da palavra! Muitas figuras aparecem para representar sensações - "Meu coração disparou uma vibração de pássaro preso na gaiola.", "o aroma de lírios mortiços", "a gralha preta... na neve branca"...

Ainda, chama a atenção como se utiliza de nomes de contos (principalmente de Poe!) e de romances para representar seu estado de espírito em determinado momento! É como se emprestasse dos autores e de suas obras o tom de mistério necessário para explicar determinada situação, principalmente suas emoções em relação a acontecimentos que não sabemos serem reais ou imaginários!

Nesse ponto, é impossível deixar de pensar em outro autor muito parecido, aliás, citado na contracapa do livro, que é Henry James... Faz tempo que li Os inocentes (Ediouro), mas é possível perceber a semelhança entre as duas obras: duas crianças cuidadas por criados, uma governanta, pessoas más, fantasmas... enfim, elementos que nos prendem ao livro e nos fazem desejar chegar ao final para acabar com o sofrimento!

Infelizmente, não é o primeiro livro atualíssimo que encontro com problemas na tradução (já havia citado esse problema em obras anteriores, como em Zorro!), principalmente de concordância, embora não tire a beleza da narrativa; o título é outro fator que desperta atenção: o original é Florence e Giles, o que na minha modesta opinião diz muito mais sobre a obra (afinal são os protagonistas!) do que o oferecido em português, pois Florence não deveria ler... mas lê!

Bom... acredito já ter contado demais! Espero que o leitor encontre tanto prazer quanto eu nessa aventura fascinante... Boa leitura...