"Um mesmo livro nunca é o mesmo para duas pessoas." Ferreira Gullar



24 de fevereiro de 2009

Dom Quixote


Clássico é clássico!

Não importa se reeditado, adaptado ou reinterpretado por outras artes, é inquestionável o poder de um clássico! Por mais difícil que seja ler um na atualidade (tempo em que as informações são tão velozes que mal temos tempo de assimilá-las!), sempre se tem o que admirar... é o que acontece com O engenhoso fidalgo Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes. Apesar da linguagem distante da simplicidade do internetês, é possível observar um pouco das características marcantes de uma obra imortal, principalmente na construção de um herói - mais anti-herói impossível! - que parte em busca de reconhecimento por seus grandes feitos - nem um pouco grandiosos! - e quer agradar seu amor - que nem sabe que ele existe! Esse mix de doidos efeitos associado à evidente insânia do protagonista faz de Dom Quixote uma obra digna de leitura entusiástica.
Queres saber por quê? Simples... Ela nasceu para questionar! Numa época em que livros sobre cavaleiros faziam sucesso, Cervantes criou o novo, despertou o público para o risível, ridicularizando a seriedade com que eram tratadas as Novelas de Cavalaria.
E mais: uma obra que tem mais de 400 anos e é o segundo livro mais lido no mundo (só perde para a Bíblia...), não pode ser desprezada! É fantástica a mistura de real e ficção proposta por Cervantes, é um dos pontos altos da obra... e surge justamente na medida em que a visão distorcida do fidalgo encontra apoio no senso prático e responsável de seu fiel escudeiro! Belíssima relação a desses personagens! Digna, honrada...
Precisas de que mais pra começar a leitura? Sê bem-vindo...

12 de fevereiro de 2009

* Amizade *

Fui hoje à casa de uma amiga que adora novelas. Não uma amiga qualquer... é daquelas que se leva para a vida inteira! E olha que há pouca coisa em comum entre nós... mas faz 32 anos que convivemos - entre idas e vindas, mais dela que minhas - e isso é tempo suficiente para que se conheça alguém. Então, o que tem a ver ela ser minha amiga mais antiga e gostar de novelas? É que gostos são indiscutíveis (isso é fato, todo mundo sabe!) e eu odeio novelas!! Aliás, odeio TV... só assisto aos telejornais para não me tornar uma alienada (se bem que de vez em quando gostaria de ignorar alguns fatos...).
Acontece que no meio de uma conversa ela perguntou se eu conhecia o outro livro do Kahled, o do Caçador de pipas, e eu fiquei super feliz! Mesmo eu não sendo simpatizante de novelas, redescobri que ela é uma simpatizante do mundo dos livros e tinha lido o estupendo O Caçador de pipas. Ah... e como eu sofri com essa leitura... como chorei! Ele me deixou tão angustiada que eu até hoje não assisti ao filme (e ainda não pretendo!)... não consigo me imaginar passando por tudo aquilo de novo!! Mas já não aconteceu da mesma forma com A Cidade do Sol. É muito bom, também mexe com o leitor, mas não o considerei tão intenso como o anterior.
Isso tudo também me fez pensar que eu detesto não ter os livros que leio! Já perdi muitos emprestando, principalmente para alunos, mas ainda assim prefiro comprá-los a tomá-los emprestado. Agora mesmo, minha amiga queria ler A Cidade do Sol e eu não o tenho!! Ela vai ficar na vontade até que encontre alguém que o tenha... Ou seja, preciso comprá-lo, urgentemente! É uma linda e triste história de amizade entre duas mulheres e ela precisa ler!
Isso tudo, associado ao fato de ela ter me contado alguns detalhes da nova novela da Globo, ainda me fez lembrar de outra história de amizade: o comovente A distância entre nós, de Thrity Umrigar. A história se passa na Índia e traz como protagonistas duas mulheres que se sabem muito próximas, mas ao mesmo tempo são separadas pela classe social, o que não só as distingue, como também marca seus destinos.
Quando o tema é amizade, qualquer dos três é uma boa pedida... mas se queres decidir qual o melhor, arregaça as mangas e... bon voyage!

9 de fevereiro de 2009

∞ Lemniscata ∞

Talvez o maior acerto dos últimos anos em projetos de leitura na escola tenha acontecido no ano passado, no 2º ano, com a escolha de Lemniscata, o enigma do Rio (Pedro Drummond)!
O livro tem uma história fantástica... é um romance de ação que lembra muito o excelente O código Da Vinci, de Dan Brown (o livro, é lógico!). A maior parte da ações se passa no Rio de Janeiro e as personagens têm boa dose de beleza, carisma e inteligência... que, misturados, são suficientes para seduzir o leitor!
Se tu ainda não leste, é bom dar uma olhadinha no site http://www.lemniscataolivro.com.br/... tenho certeza de que vais gostar! Quem já leu... bem, esses também podem passear por lá e observar cenários, ambientes, objetos e outros artefatos utilizados para compor a história! É muito legal!
Esse também merece cinco estrelas...

5 de fevereiro de 2009

Quando a ficção se mistura à realidade...

Nesse período enlouquecedor em que não tive livros para ler (estava em Santa Vitória e não sobrou nada na bagagem!!), fiquei repensando sobre os mais mais, sabes?!? Aqueles que ficam gravados, que deixam marcas tão fundas a ponto de, às vezes, te perguntares qual a fronteira entre a realidade e a ficção... e resolvi que escreveria especialmente sobre um deles!
Precisamos falar sobre o Kevin (Lionel Schriver) é um daqueles livros de perder o fôlego!!! Lembro bem das sensações que tive ao lê-lo: angústia crescente, ansiedade, medo, vergonha, raiva... tudo misturado! Na descrição de uma típica família norte-americana, a autora nos faz encarar um drama social - os assassinatos nas escolas, provocados pelos adolescentes - que não é menos familiar: o foco na mãe de Kevin, o assassino. Mas não penses que é um relato melodramático, choroso, pintando uma mãe desolada por não saber onde errou... é um texto seco, sem enfeites no que concerne à alma humana, apresentado através de cartas - como se a mãe as fosse escrevendo diariamente a um marido ausente - em que ela nos mostra o filho desde o nascimento até a entrada na idade adulta, já preso pelos crimes que cometera.
Nada, em nenhum momento nos meus anos todos de leitora, me preparou para o que encontrei em Precisamos falar sobre o Kevin!! Nada me preparou para a difícil tarefa da ler a crueldade humana escancarada... para a maldade que a autora mostrou nascer com o homem... para o egoísmo e o sadismo transbordantes em Kevin... Choca! Maltrata! Faz pensar!
Todos os pais deveriam lê-lo! Pois é quando a ficção se mistura à realidade que vemos quão boa é uma obra... e nada alivia o peso da descoberta final!