"Um mesmo livro nunca é o mesmo para duas pessoas." Ferreira Gullar



21 de julho de 2010

Entre a ficção e a realidade


Há muito tempo um livro não me fazia chorar!
Eu sou Alice (Melanie Benjamim, Ed. Planeta) é daqueles livros mágicos, incrivelmente bem escritos, que mexem com a emoção... e com a imaginação! Mistura de drama e narrativa de aventuras, traz à tona a "verdadeira" história de Alice, aquela do País das Maravilhas, tão em voga ultimamente, por causa do filme de Tim Burton.
O que mais instiga o leitor é a relação da pequena Alice Liddell, aos sete anos, mais tarde aos dez e aos onze, e Lewis Carroll (pseudônimo do Sr. Dodgson), vinte anos mais velho! Nos longos meses de primavera e verão da Inglaterra, a partir de 1856, foram companheiros de brincadeiras e histórias, situações contadas até de forma ingênua, mas que sugerem uma pitada de malícia! Uma relação que nunca fica totalmente clara, mas que é a fonte da tragédia na vida de Alice... ao mesmo tempo que a marca indelevelmente como a menina do livro - "Ai, meu Deus, estou cansada de ser Alice no País das Maravilhas"!
Não tenho hábito de ficar só contando livros aqui (até porque acredito que muito melhor é lê-los!), porém há três coisas que saltam aos olhos nessa obra, além da muito estranha relação entre Alice e Sr. Dodgson. Uma delas é a figura materna! A mãe de Alice é ao mesmo tempo forte e imperativa, mãe zelosa e carrasco, o afago e a dureza, a presença doce e ao mesmo tempo cruel... uma mistura antitética que é muito difícil imaginar, mas que deve se assemelhar às mães daquele tempo. A própria protagonista em determinado momento se parece muito com essa imagem, ao falar e cuidar dos filhos!
É aí que surge o segundo ponto: como mãe, depois de tudo que viveu (e sofreu!), espera-se que Alice seja diferente... que aja mais com o "coração", que se entregue à beleza e à ingenuidade da infância, que seja novamente a menina espevitada a brincar com os filhos, mas ela faz somente repetir as ações da mãe. Marcada por um passado de dor e de sombras, não consegue reencontrar aquela Alice criança, até porque ela representa os segredos desse passado que não deseja remexer!
Por fim, e ainda não distante dos dois exemplos anteriores, o amor de Alice pelo príncipe Leopold, não "concretizado" em razão do suposto escândalo que a envolvia com o Sr. Dodgson, deixa rastro em vários momentos de sua história, mas principalmente no nome do segundo filho, um dos que ela vai perder na I Guerra!
Incrível pensar que uma narrativa eletrizante como a que nasceu com a pequena Alice tenha provocado uma existência de tanta dor e frustrações! Dá vontade de contar mais e mais...
Amei o livro! Nota mil...

2 comentários:

  1. Vontade grande de sair correndo e comprar agorinha! Hummm... Será que tem dinheiro no porquinho? haha
    ai, quero muito ler!
    Beijão, Lu.

    ResponderExcluir
  2. Lu querida
    Nem imaginas o quanto teus comentários me fizeram querer ler este livro. Pensei que o faria por livre e espontânea pressão, ledo engano, ainda bem. Agora estou ansiosa para que o livre chegue às minhas mãos. Quem ama a literatura tem este dom: fazer o leitor sair de si.
    Obrigada, continuas a mesma.

    Te adoro!!!

    Lúcia

    ResponderExcluir